quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A Porta Branca

Depois de 30 minutos arrastando as malas, Lucas se jogou no chão e chorou. Como podia ter se sentido tão feliz no dia anterior e hoje se sentir assim, tão perdido? Na verdade, Lucas não queria acreditar nas palavras horríveis que o segurança do hotel tinha falado. Mas, pensando bem, ele nem sabia qual era o nome do amigo Urso. Só sabia que gostava de Ray Charles, tinha uma caixinha de música com uma ursa bailarina dentro e que eles eram apaixonados; que gostava de pizza calabresa e de coca-cola. O Urso mal sabia também o nome do garoto. Não sabia se tinha pais, irmãos, avós. Lucas olhou de novo para o céu e engoliu o pedido. Não ia mais pedir. Agora ele queria encontrar o Urso custe o custasse.

Ainda no chão, o menino viu à sua esquerda uma porta branca enorme com alças douradas. Não resistiu. Deixou as malas para trás, abriu a porta e entrou. O local era bem diferente do que havia lá fora. Lucas se deparou com um campo verde enorme, cheio de flores coloridas. O céu era roxo e o sol rosa. Ele ficou durante três minutos olhando para tudo aquilo. Estava pasmo. Jamais tinha visto um céu roxo e um sol rosa... Enfim, tomou coragem e começou a andar sem olhar para trás. Tomava um pouco de cuidado para caminhar, tinha que desviar de um monte de animais que estavam deitados, quase dormindo. Até que avistou um lugar vazio e resolveu deitar também. Mas de barriga para cima, queria admirar aquele céu estranhamente bonito roxo. O menino se esticou, colocou seus braços como apoio de cabeça e começou a rir. Estava feliz de novo.

Foi quando viu uma sombra sobrevoando seu corpo. Era uma borboleta gigante, preta, com asas laranjas e rosto de menino. Lucas ficou branco e cheio de medo.

- Posso me sentar? - perguntou a borboleta.
- Não sabia que borboletas sentavam e muito menos falavam. - retrucou Lucas.
- Eu falo, sento, como, brinco! - Qual é teu nome? - perguntou a borboleta.
- Lucas e você?
- Fred!
- Nunca vi borboleta desse tamanho, com nome e rosto de criança!!
- O meu sonho era original. - comenta a borboleta.
- Que sonho?
- Ué, de virar para sempre uma borboleta!
- Pra sempre? - pergunta ansioso o menino.
- É!!! Não é demais?
- Acho que não. Por que eu gostaria de ser uma borboleta?
- Para ter asas, ué?!!
- Eu poderia, então, ser um pássaro!!!
- Poderia, mas borboleta é bem mais legal!
- E a sua mãe? Tem asas? – pergunta o menino.
- Não. - responde a borboleta.
- E de que adianta poder voar sem sua mãe?
- Mas minha mãe não mora aqui.
- Não? pergunta Lucas, aflito.
- Não. Ninguém da minha família mora aqui.
- Acho que você não é feliz, então. – comenta o menino.
- E você? Faz o que aqui? – pergunta a borboleta.
- Vim realizar o meu sonho. - fala baixinho o menino.
- E qual é o seu sonho?
- Só posso falar para o Imperador! - diz Lucas, já ficando bravo.
- Ah é verdade! - comenta a borboleta.
- Esse país é muito estranho. É um país que realiza todos os sonhos e é cheio de regras. Faça isso, não faça aquilo. Não passe dessa risca. Encontro meu amigo urso e depois me perco dele. desabafa o menino.
- Você tem um amigo urso???
- Acho que sim!!! – responde Lucas.
- Eu queria ter um amigo Urso!!!
- Pois é, bem que você poderia me ajudar a procurá-lo, né?
- Claro!!! Qual foi a última vez que você o viu?
- No Hotel!!!!
- Que Hotel?
- O Hotel que fica na rua principal, depois daquela porta ali! Ué, cadê a porta branca que entrei?
- Iiihhh! Você perdeu o Urso na outra cidade!
- Que cidade? Como assim?
- Vixi Lucas, você é muito confuso e sempre não sabe de nada. – fala a borboleta se levantando.
- Onde está a porta, borboleta?
- Se você for um pouco esperto vai se levantar agora e começar a correr, porque a porta branca sempre corre. – responde a borboleta num tom irônico.

O menino então se levanta rapidamente e começa a correr. Sem foco algum, sem jeito e quase caindo, vai pisando em cima de todos os animais que estão deitados em busca da porta branca corredora.

- Desista Lucas!!! Quase ninguém consegue sair daqui!!! Desista logo e vamos jogar uma partida de damas!!! – grita a borboleta.

Lucas, já um pouco já irritado com a borboleta, continua correndo se desculpando a cada animal que atropela e grita:

- Obrigado borboleta malditaaaaa!!! Mas preciso encontrar meu amigo Urso. Nos perdemos e precisamos nos encontrar, ele me espera depois da porta branca.

Ao ouvir isso, todos animais que estavam deitados, comovidos com a vontade do menino encontrar seu amigo, levantam-se e abrem espaço para Lucas correr sem obstáculos. Além disso, eles se abraçam formando uma corrente e gritam:

- Vai Lucas, você consegue!! Vai Lucas, você consegue!! Vai Lucas, você consegue!!

Lucas, então, vê a porta branca a sua esquerda e fica pasmo ao ver que ela tem pés calçados e eles correm mais rápido que os seus próprios pés. Eis que então, a girafa pink estica seu pescoço e faz com que a porta tropece. E o menino, muito esperto, se joga em cima da porta, puxa as alças douradas, abre a porta e é cospido para fora daquele lugar estranho.

Quando abre o olho ainda meio tonto, Lucas está em cima de suas malas. Escuta uma gritaria e quando olha pra frente, vê o Urso ao lado de um gato preto brigando com o segurança do Hotel!!! O menino se levanta e começa a correr em direção ao urso.

- Ursoooooooo, ursoooooooooooooooooo, ursoooooooooooooooo!

É quando o Urso abre um sorriso e corre em direção ao menino. Os dois se abraçam forte.

Um comentário:

Thais Abrahão disse...

Para ler de joelhos...